Texto:
Salmo 73
Introdução
Uma das características dos salmos é que seus autores
abrem o jogo sobre si mesmos, seus problemas, suas reflexões e suas dúvidas.
Eles não querem se exibir. Há pessoas que costumam
confessar seus pecados para poder se exibir. Este Salmo começa com uma
declaração e termina com outra declaração. Entre estas temos a confissão de um
autor, Asafe. Ele começa com uma expressão de vitória, de alegria! Este homem
conta sua experiência particular, de olhar para a vida dos outros e comparar
com a sua. Ele fornece uma descrição da vida dos outros.
I – A
perplexidade toma conta dos autores dos salmos.
1. A perplexidade do autor não é surpreendente. Nós estamos tratando da mente de Deus que é
diferente da mente humana. Temos a idéia de que Deus é obrigado a abençoar os
seus filhos e a dar-lhes tudo o que eles desejam. Mas Deus pensa diferentemente
de nós, como diz Isaías: “Os meus pensamentos não são como os seus pensamentos,
e eu não ajo como vocês. Assim como o céu está muito acima da terra, assim os
meus pensamentos e as minhas ações estão muito acima dos seus” (Is 55.8-9).
2. A segunda coisa que vemos aqui é que não é pecado
ficar perplexo. Tem crentes que
acham que o céu será sempre azul, límpido e brilhante. É errado ficar num
estado de desespero, mas não é errado sentir-se perplexo. Paulo já dizia:
“Perplexos, mas não desanimados” (2 Co 4.8). – Perplexidade: Indecisão.
a) Apesar de não ser pecado sentir-se perplexo, a
perplexidade sempre abre a porta para a tentação. A tentação não apenas abala,
ela pode derrubar o maior dos santos. Por isso o salmista diz: “Quanto a mim,
os meus pés quase se desviaram...”. Jamais esqueça que o poder do inimigo
contra nós somente é inferior ao poder de Deus. Paulo diz: “Revistam-se de toda
armadura de Deus”. Necessitamos de toda armadura divina para poder vencer as
tentações. Foi este tipo de tentação que tomou conta da vida de Paulo em 2
Coríntios 12.
3. A terceira coisa que vemos aqui é que a tentação
produz cegueira espiritual. Veja
como ele diz: “Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos
perversos”. A tentação não deixa a gente pensar com clareza. “Você não acha que
não vale a pena se santificar, se abster de certas coisas, e ver que no fim, os
outros ainda estão melhor que nós?” (v 13). Parece que não adiantou nada eu me
conservar puro e ter as mãos limpas de pecado. Ouça o diabo sussurrando em seu
ouvido: “Não adianta você querer se bonzinho; você é mau por natureza...”. “Não
adianta ser crente. Os ímpios não crêem em Deus e vivem melhor que você!
4. Temos de aprender a lidar com a tentação quando
ela vem. É isto que o salmista
tenta nos dizer. “Chegamos a conclusão de que Deus é bom para Israel”. Mas,
será que ele é sempre bom? Podemos dizer isto sem culpa? O salmista acrescenta:
“...para com os de coração limpo”. Como em Romanos 8.28: “Todas as coisas
cooperam para o bem dos amam a Deus...”.
A perplexidade não o levou à queda, mas à reflexão!
II. Tomando
pé da situação.
“Se eu tivesse falado como os maus, teria traído o
teu povo. Então eu me esforcei para entender essas coisas, mas isso era difícil
demais para mim” (15-16).
Os salmos não devem ser utilizados como
tranqüilizantes; nem como um tratamento psicológico. Ou como poesia. Os salmos
são tudo isto, mas eles têm como finalidade retratar a vida espiritual e as
experiências de seus autores. Olha para Jesus! Mas, isto não é tudo. Deve haver
disciplina. Se você estudar a vida dos puritanos, como Richard Baxter, dos
metodistas, como os Wesleys e Whitfied, verá que eram disciplinados na vida
cristã.
1. A grande arte da vida cristã é aprender a refletir
e dirigir-se a si mesmo. Ele se
refreou. O texto acima pressupõe que o autor ia dizer algo, mas parou. Ia falar.
Ficou quieto. Ele refletiu antes de falar novamente.
III. A
necessidade de revelação.
“...até que entrei no santuário de Deus e atinei com
o fim deles” (v 17).
A capacidade de raciocinar e a reflexão nem sempre
têm todas as respostas. É preciso que o homem receba um toque de revelação, uma
luz para entender o que se passa.
1. O que é
preciso para receber uma revelação?
a) Não se consegue uma revelação sem que se
tenha fome e sede de Deus.
Davi também se sentia ofendido por seus amigos que
lhe perguntavam: “Onde está o teu Deus?”. Ele diz: “Como suspira a corça pelas
correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma
tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?”
(Sl 42.1-2).
“Bem-aventurado aquele a quem escolhes e aproximas de
ti, para que assista nos teus átrios; ficaremos satisfeitos com a bondade de
tua casa—o teu santo templo” (Sl 65.4).
A pessoa que tem sede de Deus, ora, clama, busca sua
presença. Os Salmos estão repletos deste tipo de clamor.
b) Entrar no santuário, isto é, ficar frente com
Deus. Foi o caso de Jó. Depois
que Deus fala com ele, exclama: “Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus
planos pode ser frustrado. Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento
encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas
demais para mim, coisas que eu não conhecia. Escuta-me, pois, havias dito, e eu
falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Eu te conhecia só de ouvir, mas
agora os meus olhos te vêem” (Jó 42.2-5).
O que é entrar no santuário? É buscar a Deus. Ir onde
ele está!
Quando não temos revelação, falamos de coisas que não
entendemos.
“Quando o coração se me amargou e as entranhas se me
comoveram, eu estava embrutecido e ignorante; era como um irracional à tua
presença” (Sl 73.21-22).
Ex. Foi o caso de Moisés. Ele precisou ter uma
revelação do caráter de Deus (Ex 34.6-7). E também de todos os líderes da
Bíblia. Eles tiveram um encontro com Deus. Como Abraão que via o futuro, e viu
os dias além da igreja!
2. A revelação dissipa nossas dúvidas. Por isso Paulo pede que oremos pelos novos crentes
para que tenha iluminação divina. “... para que o Deus de nosso Senhor Jesus
Cristo, o Pai da glória, vos conceda espírito de sabedoria e de revelação no
pleno conhecimento dele, iluminados os olhos do vosso coração, para saberdes
qual é a esperança do seu chamamento, qual a riqueza da glória da sua herança
nos santos e qual a suprema grandeza do seu poder para com os que cremos,
segundo a eficácia da força do seu poder...” (Ef 1.17).
O que é uma revelação divina? É quando nossa mente,
nossa razão, depois de grande luta se rende à iluminação do Espírito de Deus.
3. A revelação traz luz sobre nós mesmos. A revelação de Deus NÃO NOS MOSTRA APENAS SUA
GLÓRIA, mas nosso pecado. O salmista Asafe, aqui, ao entrar no santuário, não
apenas descobre o destino dos ímpios: ele vê o seu interior: “Eu era um bruto,
um insensato, irracional, falei sem pensar, sem conhecer...”. Toda pessoa que
tem revelação de Deus vê o seu interior. A mesma experiência teve Isaías no
capítulo 6. Ele viu o Senhor e a glória do Senhor lançou luz sobre seu interior
e ele viu seu pecado! “Ai de mim”, gritou.
Isaías disse: “Eu vi o Senhor...”. Depois ele
exclamou: “Então, disse eu: ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de
lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos
viram o Rei, o SENHOR dos Exércitos!” (Is 6.5).
A introspecção sem a luz de Deus traz culpa e
desatinos, mas com a luz de Deus traz respostas. A reflexão apenas pode trazer
confusão, mas quando Deus jorra de sua luz sobre nossas mentes, entendemos com
clareza.
O que levou homens e mulheres de Deus a suportarem as
dificuldades foi a revelação que tiveram de Deus e de seu propósito.
Podemos ver isto em Abraão que vivia em tendas porque
aguardava a cidade que tem fundamentos; em Moisés, que contemplava o galardão;
em José que deu ordens aos judeus sobre seus ossos... etc.
Voltemos ao
Salmo 73.
No início ele diz: “Quanto a mim...”. Antes de ter
revelação de Deus, quase se desviou. Agora no fim declara de novo: “Quanto a
mim, bom é estar junto a Deus...” (v 28). Apenas um olhar separa o homem das
respostas que Deus tem para ele.
Os dois “quanto a mim” no versículo dois e depois no
vinte e oito mostram que a experiência que ele teve mudou sua maneira de
pensar. Agora ele podia dizer que Deus é bom pra com ele também!
***
Graça&Paz!!
ResponderExcluirEste Salmo para mim é dos mais lindos. Salmo apologético contra a prosperidade material e contra as dúvidas da fé.
Parabéns pelo post
Deus o abençoe
Paz Alexandre. Considero este salmo dos mais eloquentes do conjunto, deve ser lido junto com os salmos 36 e 37 que se completam. É um perigo invejar a prosperidade dos impios, a razão se embota e apenas a misericordia do Senhor pode nos segurar em suas mãos. Parabéns pela explanação
ResponderExcluirpaz e graça tenho o prazer de mais uma vez vir aqui fazer uma visita. parabens meu amado o conteudo é bom.
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