3 de setembro de 2010

A leitura devocional diária da Bíblia e a Escola Dominical




por Caramuru Afonso Francisco 

Muitos estão a propagar, por aí, que a Escola Bíblica Dominical já não tem mais lugar nos dias de hoje, que é uma estratégia ultrapassada ante as mudanças sociais operadas no mundo, muito diferente daquele em que se iniciava a industrialização na Inglaterra, quando Robert Raikes criou a Escola Bíblica Dominical tal como a conhecemos hoje. No entanto, a EBD somente deixaria de ser necessária se houvesse um outro espaço em que se pudessem elucidar dúvidas a respeito das Escrituras nas igrejas locais com liberdade, intimidade e presença de Deus ou se não houvesse um estado em que tais dúvidas não mais existissem. O que se percebe, pelo contrário, é que o atual nível de informações acessíveis e as características da vida moderna tornam ainda mais necessária a existência deste espaço de dúvidas, até porque maior a iniqüidade e a falsificação da Palavra nos dias atuais. Como dizer, então, que a EBD está ultrapassada?

- Não é à toa que, como vimos supra, está aumentando e não diminuindo o número daqueles que nada sabem a respeito das Escrituras dentro das próprias igrejas locais, sem se falar no aumento da apostasia e da frieza espiritual entre os que cristãos se dizem ser, a nos mostrar que, mais do que nunca, é necessário que não só se retome a leitura devocional da Palavra por parte dos crentes, como também que haja espaços nas igrejas locais para que haja o devido ensinamento da Palavra, como ocorreu nos dias de Esdras.

- Não fosse o ensinamento e esclarecimento da Palavra, todo aquele avivamento teria naufragado, visto que o povo, ao perceber a sua pecaminosidade, passou a chorar e a se lamentar, a querer desanimar. Foi, então, que o Senhor usou os levitas para que o povo compreendesse que o fato de as Escrituras revelarem nossa miserável situação diante de Deus não é motivo para tristeza, mas para gozo, pois a alegria do Senhor é a nossa força (Ne.8:10). Levar o povo a ler as Escrituras mas não haver como esclarecê-los é dar lugar ao diabo para que distorça tudo e transforme os bons intentos que têm todas as condições para nos levar a uma vitória espiritual a uma derrocada muitas vezes irreversível. Como diz o apóstolo, jamais devemos dar lugar ao diabo (Ef.4:27).

- Além de termos uma leitura devocional diária da Bíblia Sagrada, para que venhamos a crescer espiritualmente, é indispensável que participemos de cultos de ensino da Palavra, cultos cujo principal interesse seja o da exposição da Palavra do Senhor, de forma a que venhamos a ter maior conhecimento da Bíblia Sagrada, bem como que sejamos assíduos participantes da Escola Bíblica Dominical, que é a atividade da igreja mais propícia para que, por meio do debate e da interação, possamos elucidar todas as dúvidas que nos surgirem e cheguemos à compreensão do exato significado da vontade de Deus para nossas vidas. Infelizmente, não é difícil encontrarmos igrejas locais em que os cultos de ensino e a EBD sejam as menos freqüentadas, assim como também não é difícil encontrarmos igrejas onde os cultos de ensino passam a ser mais um interminável desenrolar de usos e costumes, ao invés de um acurado estudo sobre as verdades bíblicas. Não é outro o motivo de não termos mais, hoje em dia, o mesmo nível de espiritualidade que caracterizaram as Assembléias de Deus nos primeiros anos de sua história quase centenária em nosso país? Não estamos sendo saudosistas nem desprezando os inegáveis progressos que o Senhor tem realizado no meio do Seu povo, mas se mantivermos esta transigência com a falta de estudo da Palavra de Deus, não poderemos pensar senão na continuidade deste retrocesso espiritual. É tempo de encontrarmos, como no tempo do rei Josias, a Palavra do Senhor em nossas casas de oração(II Cr.34:14-19)!

- Por fim, observamos que o crente sincero e verdadeiro, que quer crescer espiritualmente deve ser, sobretudo, ser alguém que tenha uma vida equilibrada, o que não é difícil para quem é convertido e, como tal, ostenta o fruto do Espírito Santo (Gl.5:22), que tem, como uma de suas qualidades, a temperança, ou seja, o domínio próprio, o equilíbrio. Dentro desta realidade, vemos que o crente que se conforma ao modelo bíblico, não despreza a oração, pois ora em todo o tempo, mas também não deixa em segundo plano a leitura e meditação na Palavra do Senhor. Disse Pedro que devemos crescer na graça e no conhecimento de Jesus (I Pe.3:18).

- Numa feliz observação, o pastor e escritor Severino Pedro da Silva afirma que a graça e o conhecimento são as duas pernas do cristão na sua caminhada para o céu. Se somente buscar a graça, numa vida incessante de oração, mas sem a meditação na Palavra, numa atitude anti-intelectualista (i.e., contrária ao estudo da Bíblia), não se terá um “crente fervoroso ou espiritual”, como dizem alguns, mas um crente manco, que será um fanático, que, facilmente, será enganado pelo inimigo, “…com  pretexto de humildade e culto dos anjos, metendo-se em coisas que não viu…”(Cl.2:18), “…meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam fraudulosamente.”(Ef.4:14). De igual modo, o crente que somente se dedica ao estudo da Palavra de Deus, sem se dedicar à oração, numa atitude contrária à graça e ao fervor, será, também, um crente manco, um crente teórico, sem discernimento espiritual, pois, sem a ação e a comunhão do Espírito Santo, em meio a suas elucubrações, não será diferente dos filósofos da Grécia Antiga que, em todo o seu conhecimento, tentavam buscar ao Senhor, mas apenas o tateavam, sem conseguir encontrá-lo (At.17:27), torna-se uma pessoa que, apesar de examinar as Escrituras, não consegue ver a vida em Cristo que elas testificam (Jo.5:39,40), esquecendo-se de que …”ninguém sabe as coisas de Deus, senão o Espírito de Deus…” (I Co.2:11) e que “…o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura e não pode entendê-las, porque elas discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual, discerne bem tudo e ele de ninguém é discernido.”(I Co.2:14,15).

- Como também costuma ensinar o irmão Sérgio Paulo Gomes de Abreu, coordenador do Portal Escola Dominical, o crente, ao orar, tem vontade de ler a Bíblia e, ao ler a Bíblia, tem vontade de orar. Assim, uma atividade reclama a outra e, desta maneira, o crente pode dar seus passos vigorosos e seguros em direção à Jerusalém celestial, passos dirigidos (Pv.16:9;20:24; Jr.10:23) e confirmados pelo Senhor (Sl.37:23), passos que não resvalarão porque provenientes de quem têm a lei de Deus em seu coração (Sl.37:31), porque ordenados na Palavra (Sl.119:133).

- Vemos, pois, que, para andar, é preciso dar passos e que cada passo (pois passo é o “ato de deslocar o apoio do corpo de um pé a outro enquanto se anda em qualquer direção”), na vida espiritual, exige tanto a oração quanto a leitura devocional da Palavra, já que o passo é dirigido por Deus e é por meio destas duas ações que nos comunicamos, entramos em comunhão com o Senhor. Como, pois, pretendemos ir para o céu sem que tenhamos estas duas ações devidamente disciplinadas e feitas conforme a ordem divina nas Escrituras?

- Mancando, o crente não conseguirá, sozinho, chegar ao lar celestial (Hb.12:13). Que Deus possa nos abençoar e que, na nossa vida diária, no nosso dia-a-dia, possamos ler a Bíblia e fazer oração, para podermos crescer e ver o Senhor Jesus naquele dias nas nuvens. Amém !

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Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco é Presbítero na Assembléia de Deus, Belenzinho - São Paulo, professor de Escola Bíblica Dominical.

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