por Caramuru
Afonso Francisco
Muitos estão a propagar, por aí, que a Escola Bíblica
Dominical já não tem mais lugar nos dias de hoje, que é uma estratégia
ultrapassada ante as mudanças sociais operadas no mundo, muito diferente
daquele em que se iniciava a industrialização na Inglaterra, quando Robert
Raikes criou a Escola Bíblica Dominical tal como a conhecemos hoje. No entanto,
a EBD somente deixaria de ser necessária se houvesse um outro espaço em que se
pudessem elucidar dúvidas a respeito das Escrituras nas igrejas locais com liberdade,
intimidade e presença de Deus ou se não houvesse um estado em que tais dúvidas
não mais existissem. O que se percebe, pelo contrário, é que o atual nível de
informações acessíveis e as características da vida moderna tornam ainda mais
necessária a existência deste espaço de dúvidas, até porque maior a iniqüidade
e a falsificação da Palavra nos dias atuais. Como dizer, então, que a EBD está
ultrapassada?
- Não é à toa que, como vimos supra, está aumentando
e não diminuindo o número daqueles que nada sabem a respeito das Escrituras
dentro das próprias igrejas locais, sem se falar no aumento da apostasia e da
frieza espiritual entre os que cristãos se dizem ser, a nos mostrar que, mais
do que nunca, é necessário que não só se
retome a leitura devocional da Palavra por parte dos crentes, como também que
haja espaços nas igrejas locais para que haja o devido ensinamento da Palavra,
como ocorreu nos dias de Esdras.
- Não fosse o ensinamento e esclarecimento da
Palavra, todo aquele avivamento teria naufragado, visto que o povo, ao perceber
a sua pecaminosidade, passou a chorar e a se lamentar, a querer desanimar. Foi,
então, que o Senhor usou os levitas para que o povo compreendesse que o fato de
as Escrituras revelarem nossa miserável situação diante de Deus não é motivo
para tristeza, mas para gozo, pois a alegria do Senhor é a nossa força
(Ne.8:10). Levar o povo a ler as Escrituras mas não haver como esclarecê-los é
dar lugar ao diabo para que distorça tudo e transforme os bons intentos que têm
todas as condições para nos levar a uma vitória espiritual a uma derrocada
muitas vezes irreversível. Como diz o apóstolo, jamais devemos dar lugar ao diabo
(Ef.4:27).
- Além de termos uma leitura devocional diária
da Bíblia Sagrada, para que venhamos a crescer espiritualmente, é indispensável
que participemos de cultos de ensino da Palavra, cultos cujo principal
interesse seja o da exposição da Palavra do Senhor, de forma a que venhamos a
ter maior conhecimento da Bíblia Sagrada, bem como que sejamos assíduos
participantes da Escola Bíblica Dominical, que é a atividade da igreja mais
propícia para que, por meio do debate e da interação, possamos elucidar todas
as dúvidas que nos surgirem e cheguemos à compreensão do exato significado da
vontade de Deus para nossas vidas. Infelizmente, não é difícil encontrarmos
igrejas locais em que os cultos de ensino e a EBD sejam as menos freqüentadas,
assim como também não é difícil encontrarmos igrejas onde os cultos de ensino
passam a ser mais um interminável desenrolar de usos e costumes, ao invés de um
acurado estudo sobre as verdades bíblicas. Não é outro o motivo de não termos
mais, hoje em dia, o mesmo nível de espiritualidade que caracterizaram as
Assembléias de Deus nos primeiros anos de sua história quase centenária em
nosso país? Não estamos sendo saudosistas nem desprezando os inegáveis
progressos que o Senhor tem realizado no meio do Seu povo, mas se mantivermos
esta transigência com a falta de estudo da Palavra de Deus, não poderemos
pensar senão na continuidade deste retrocesso espiritual. É tempo de
encontrarmos, como no tempo do rei Josias, a Palavra do Senhor em nossas casas
de oração(II Cr.34:14-19)!
- Por fim, observamos que o crente sincero e
verdadeiro, que quer crescer espiritualmente deve ser, sobretudo, ser alguém
que tenha uma vida equilibrada, o que não é difícil para quem é convertido e,
como tal, ostenta o fruto do Espírito Santo (Gl.5:22), que tem, como uma de
suas qualidades, a temperança, ou seja, o domínio próprio, o equilíbrio. Dentro
desta realidade, vemos que o crente que se conforma ao modelo bíblico, não
despreza a oração, pois ora em todo o tempo, mas também não deixa em segundo
plano a leitura e meditação na Palavra do Senhor. Disse Pedro que devemos
crescer na graça e no conhecimento de Jesus (I Pe.3:18).
- Numa feliz observação, o pastor e escritor
Severino Pedro da Silva afirma que a graça e o conhecimento são as duas pernas
do cristão na sua caminhada para o céu. Se somente buscar a graça, numa vida
incessante de oração, mas sem a meditação na Palavra, numa atitude
anti-intelectualista (i.e., contrária ao estudo da Bíblia), não se terá um
“crente fervoroso ou espiritual”, como dizem alguns, mas um crente manco, que
será um fanático, que, facilmente, será enganado pelo inimigo, “…com
pretexto de humildade e culto dos anjos, metendo-se em coisas que não
viu…”(Cl.2:18), “…meninos inconstantes, levados em roda por todo o vento de
doutrina, pelo engano dos homens que com astúcia enganam
fraudulosamente.”(Ef.4:14). De igual modo, o crente que somente se dedica ao
estudo da Palavra de Deus, sem se dedicar à oração, numa atitude contrária à
graça e ao fervor, será, também, um crente manco, um crente teórico, sem
discernimento espiritual, pois, sem a ação e a comunhão do Espírito Santo, em
meio a suas elucubrações, não será diferente dos filósofos da Grécia Antiga
que, em todo o seu conhecimento, tentavam buscar ao Senhor, mas apenas o
tateavam, sem conseguir encontrá-lo (At.17:27), torna-se uma pessoa que, apesar
de examinar as Escrituras, não consegue ver a vida em Cristo que elas
testificam (Jo.5:39,40), esquecendo-se de que …”ninguém sabe as coisas de Deus,
senão o Espírito de Deus…” (I Co.2:11) e que “…o homem natural não compreende
as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura e não pode
entendê-las, porque elas discernem espiritualmente. Mas o que é espiritual,
discerne bem tudo e ele de ninguém é discernido.”(I Co.2:14,15).
- Como também costuma ensinar o irmão Sérgio Paulo
Gomes de Abreu, coordenador do Portal Escola Dominical, o crente, ao orar, tem
vontade de ler a Bíblia e, ao ler a Bíblia, tem vontade de orar. Assim, uma
atividade reclama a outra e, desta maneira, o crente pode dar seus passos
vigorosos e seguros em direção à Jerusalém celestial, passos dirigidos
(Pv.16:9;20:24; Jr.10:23) e confirmados pelo Senhor (Sl.37:23), passos que não
resvalarão porque provenientes de quem têm a lei de Deus em seu coração
(Sl.37:31), porque ordenados na Palavra (Sl.119:133).
- Vemos, pois, que, para andar, é preciso dar passos
e que cada passo (pois passo é o “ato de deslocar o apoio do corpo de um pé a
outro enquanto se anda em qualquer direção”), na vida espiritual, exige tanto a
oração quanto a leitura devocional da Palavra, já que o passo é dirigido por
Deus e é por meio destas duas ações que nos comunicamos, entramos em comunhão
com o Senhor. Como, pois, pretendemos ir para o céu sem que tenhamos estas duas
ações devidamente disciplinadas e feitas conforme a ordem divina nas
Escrituras?
- Mancando, o crente não conseguirá, sozinho,
chegar ao lar celestial (Hb.12:13). Que Deus possa nos abençoar e que, na nossa
vida diária, no nosso dia-a-dia, possamos ler a Bíblia e fazer oração, para
podermos crescer e ver o Senhor Jesus naquele dias nas nuvens. Amém !
***
Prof. Dr. Caramuru Afonso Francisco é Presbítero na Assembléia de Deus, Belenzinho -
São Paulo, professor de Escola Bíblica Dominical.
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