por Flávio Constantino
Texto
bíblico: Mt 13. 24-30
Introdução:
Talvez esta parábola, de todo o Novo Testamento, seja
a que padeça mais de interpretações distorcidas e aplicações erradas. Isto
acontece porque temos sido extremamente taxativos, arbitrários e algumas vezes
reticentes em nossa hermenêutica. Ou seja: o que é a nosso favor tem sempre
algum versículo bíblico para nos amparar; o que é contra nós, no entanto,
dizemos não ter amparo bíblico.
Este comportamento que a maioria tem em relação aos
textos bíblicos vem nos distanciando de verdades absolutamente indispensáveis
ao viver cristão. Um exemplo clássico disso é a interpretação que até aqui tem
sido feita sobre a parábola do trigo e do joio, que vem sendo normatizada por
uma visão extremamente estreita, preconceituosa e anacrônica da hermenêutica
bíblica. Por isso faço aqui algumas ponderações sobre esta parábola:
Em primeiro
lugar, a parábola do joio e do trigo
não deve ser utilizada para enquadrar o comportamento de qualquer irmão ou seguimento
evangélico que achamos descaracterizados, porque, em tese e até que se prove o
contrário – neste caso particular, só Deus pode julgar – todos nós podemos ser
joio ou trigo; ninguém sabe: só Deus.
Em segundo
lugar, a parábola não deve ser
interpretada como se o “joio” representasse o “não convertido” e o trigo “o
crente fiel e verdadeiro”; isto porque o objetivo da parábola não é dividir a
igreja ou a sociedade humana em dois grupos: bons e maus, mas, sim, advertir a
todos os homens em todas as épocas, que ninguém deve estabelecer juízo de valor
sobre ninguém de forma definitiva, conclusiva e absoluta a partir de algo
tão-somente aparente ou julgar a subjetividade de quem quer que seja, pois isto
não é da alçada humana. À luz do ensino de Jesus, só Deus pode julgar tal
situação e isto acontecerá efetivamente na consumação de todas as coisas.
Com estas palavras introdutórias, observamos nada
menos que cinco advertências vigorosas feitas por Jesus aos que ousam julgar
alguém de forma vulgar, preconceituosa, mutiladora e, na maioria das vezes,
definitiva.
1 – A
primeira advertência de Jesus feita através da parábola do trigo e do joio é que sempre há um poder hostil no mundo
querendo destruir a boa semente.
A experiência nos diz que ambas as influências atuam sobre nossa vida: à que
ajuda a semente da Palavra de Deus a crescer e dar fruto e a que trata de
destruir a boa semente antes que possa produzir algum fruto. A lição que nos dá
a vida é que sempre devemos estar atentos.
2 – Em
segundo lugar, a parábola nos adverte que
ninguém sabe quem está no reino de Deus e quem não está. Um homem pode parecer bom, mas ser mau. O outro pode
parecer mal quando na realidade é bom. Pode ser – e o é de fato – que nos
apressemos em demasia a classificar alguém e etiquetá-lo como bom ou mau, sem
levar em conta todos os fatos ligados a ele, por total falta de conhecimento.
3 – Em
terceiro lugar, a parábola nos admoesta a
não sermos apressados em nossos juízos. Se os semeadores atuassem por conta própria arrancando o joio o
resultado funesto seria que o trigo sairia com ele. O juízo devia esperar até a
época da colheita. No final, ninguém será julgado por um ato ou uma fase
particular de sua vida, senão por sua vida inteira. O juízo só pode ser
estabelecido no final de todas as coisas. Isto porque alguém pode cometer um
erro grave e redimir-se e, pela graça de Deus, expiar o pecado convertendo todo
o resto de sua vida em algo formoso. Alguém pode viver uma vida honrada e, ao
final, arruiná-la com uma queda repentina no pecado. Ninguém que veja uma só
parte de algo, pode julgar a totalidade, e ninguém que só conhece uma parte da
vida de alguém pode julgá-lo totalmente.
4 – Em
quarto lugar, a parábola nos adverte que o
juízo chega no final. O juízo não se apressa, mas chega. No final a separação de maus e bons acontece. Pode
ser que do ponto de vista humano pareça que um determinado homem escape das
conseqüências de seus atos, mas há uma vida futura. Pode ser que do ponto de
vista humano pareça que a bondade nunca é recompensada, mas há um mundo novo
que corrige a justiça do velho.
5 – Em
quinto e último lugar, a parábola nos adverte que a única pessoa que tem direito de julgar é Deus. Deus é o único que pode discernir entre o bem e o
mal. Deus é o único que vê o homem por inteiro. Deus é o único que pode julgar.
De maneira que, em última instância, nesta parábola há dois elementos: uma
advertência para que não julguemos quem quer que seja, e a segurança de que, no
final, o juízo de Deus há de se manifestar.
Conclusão:
A razão da advertência de Jesus contida na parábola
em tela tem as suas razões pertinentes, a saber: a) nenhum ser humano é bom o
suficiente para julgar outro ser humano; b) ninguém pode lançar juízo
temerário, absoluto, aleatório e final sobre quem quer que seja, porquanto não
sabemos o que realmente está no coração da pessoa que julgamos e c) é quase
sempre impossível julgar alguém de maneira absolutamente imparcial.
Julgamento
humano à parte, o texto assevera que só Deus pode julgar o homem, pelo fato de
que só Ele tem o poder de sondar (virar do avesso) o coração do homem (Sl 139).
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Flávio Ferreira Constantino é Pastor Presidente da Assembleia de Deus - Ministério Eu Creio em Duque de Caxias - RJ e também um Apologista da fé cristã na blogsfera
Boa noite! Pois é, uma reflexão que tem todo sentido!
ResponderExcluirCarla Fernanda